Mãe, mulher, militante de esquerda, professora... não necessariamente nessa ordem!

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Sou mãe da Ana Rosa. Minha guerreira, meu orgulho. Sou militante do PSTU. Meu partido. Sou professora por opção. Não amo pela metade, não falo coisas apenas para agradar, prezo pela verdade. Sou amiga para todas as horas.

domingo, 18 de setembro de 2011

No meio do caminho tem pedra


Há um ano ele se despediu da minha mãe como um dia qualquer. Fez os planos de encontrar sua amada na volta do trabalho. Saiu carregando a felicidade de estar com seu sonho realizado. Levando na bagagem as expectativas de um garoto de 20 anos. Mas no meio do seu caminho havia um asfalto molhado, um trânsito alucinante. Nas suas mãos havia uma moto que foi a responsável por interromper seus planos. Agora no meio do nosso caminho há um pedra.


Eu cheguei lá e ele estava bem diferente da última vez que o vi com vida. Dessa vez ele tinha aparelhos que o mantinham ali. Mas eu sabia que não tinha mais vida. Eu observei tudo em volta, toquei nele. Em pensamentos eu dizia que queria que aquilo tudo não estivesse acontecendo. Eu pedia para que ele voltasse. Mas eu sabia que não adiantava mais nada!

Tudo o que eu queria era que o médico chegasse logo, para me dizer quais seriam os procedimentos e eu sair logo daquele ambiente. Era a primeira vez que eu entrava em UTI depois dos sufocos que já passamos com a Ana Rosa em uma.

O médico veio e falou tudo que deveria ser feito. Eu escutava mais ou menos, o que eu pensava de fato é que eu teria que sair daquela sala e a primeira pessoa que encontraria seria meu pai, a quem eu teria de dizer que seu filho mais novo, seu pupilo tinha morrido.

Quando saí da sala dei de cara com meu velho. Pálido, tremendo. Com uma esperança de que eu dissesse que não tivesse chegado o fim. Mas eu não sou da fazer rodeios, não sei enrolar muito nessas horas. Mas como eu não chorava, ele até esboçou um sorriso.

Eu cheguei bem perto, o abracei e soltei: Ele não sobreviveu! Sentei com meu pai em um banco que parecia nos chamar para ele, dei uma olhada em volta e chamei meus outros irmãos, que já vinham em prantos.

Então fui para a segunda etapa mais difícil: Falar com minha mãe. Também foi tenso. Era tudo tão inesperado. Mas eu não poderia ser frágil naqueles momentos. Já estavam todos muito desestabilizados. Eu precisava me manter firme para ajudar meus pais e meus irmãos. Eu pensava friamente que meu irmão mais novo, a quem eu ajudei criar estava morto e que não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso. Tudo que eu tinha que fazer era ajudar quem precisava de mim dali para a frente. Eu sou mãe e acho que morreria junto com a Ana Rosa se algo assim acontecesse com ela. Então me doía pensar o que minha mãe sentia.

Quisera eu demais estar sonhando, que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Mas como não era, enfrentamos os trâmites burocráticos. Aconteceu o velório. O velamos durante a noite e na primeira hora para o enterro ele foi sepultado. Nós decidimos não prolongar o inevitável, não queríamos ficar mais tempo que o necessário vendo uma fisionomia que não era a que estávamos acostumados, não queríamos ficar tocando aquele corpo gelado.

O tempo passou rapidamente. Eu sinto a mesma dor que há 12 meses. Sinto falta dele. É difícil ir na casa da minha mãe e não lembrar dele, não falar das suas “artes”, não ficar tentando entender os porquês. Mas não podemos parar porque a nossa vida segue e nós que ficamos vivos precisamos continuar lutando.


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