Mãe, mulher, militante de esquerda, professora... não necessariamente nessa ordem!

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Sou mãe da Ana Rosa. Minha guerreira, meu orgulho. Sou militante do PSTU. Meu partido. Sou professora por opção. Não amo pela metade, não falo coisas apenas para agradar, prezo pela verdade. Sou amiga para todas as horas.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Correção total da Dupla via de saído do VD

No BP eles preferem que a mãe não fique na uti, pois lá são muitos leitos, muitos casos complexos. Muitas intercorrências e muitas pessoas em quartos como esses mais atrapalham que ajuda. Meu coração não cabia no peito quando tinha que sair e deixar ela lá sozinha. Morava há duas horas de SP, não tinha como andar pelas ruas de cadeira de rodas. Então o Jé me deixava lá para a visita das 11:00, eu ficava na sala de espera até a visita das 17:00 e ele passava lá pra me pegar depois do trabalho, as 23:00 horas. Era essa a nossa rotina até a alta dela para o quarto.

Dia 19 de Setembro foi o dia da segunda cirurgia. Dessa vez era tudo ou nada.
Nesse ela completava 3 meses. Passei a noite anterior inteirinha em claro, chorando nos braços do Jefferson. Na minha cabeça passavam mil coisas. Eu me perguntava por que aquilo tudo estava acontecendo justo comigo, que nunca quis ter filhos só para não sofrer com a dor deles. E agora que eu tinha, a sensação que ia perder me perseguia. E pensava: eu não queria, mas agora que tenho, não quero perdê-la, porque que eu a amava mais que a mim mesma. Será que toda a dor que senti durante a gravidez, será que todos os sacrifícios que fizemos, será que todo o sofrimento da Ana foram em vão? Aquela foi a noite mais longa de toda a minha vida. E eu estava tão longe da minha florzinha de Maracujá, e tudo que queria era passar aquela noite todinha com ela no colo. Queria afastar os pensamentos que aquela seria a última noite dela com vida, mas não conseguia. Queria entender porquê com ela. Pensava se ela iria sentir dores na hora da operação. Enfim... em minha cabeça não cabia os meus pensamentos. O Jefferson não dormiu, não chorou. Tinha o olhar apreensivo e esforçava-se para manter-se firme, talvez por perceber que naquele momento eu precisava muito dele. Ele permaneceu em silêncio e me abraçou muito forte, mesmo quando em chorava desesperadamente e tentava repeli-lo.

Chegamos no hospital bem cedinho e fomos correndo ver a Ana. Nunca aqueles corredores pareceram tão largos, tão distantes do quarto da Ana.
Os passos do Jefferson empurrando minha cadeira de rodas demonstravam seu desespero. Chegando ao quarto ela estava bem acordadinha, somente de fraldas, tão pequena e magrinha, mas linda, corada, e os olhos brilhavam. O Jefferson chorava e ela o olhava com aqueles olhos pretos como duas jabuticabas, como se perguntasse por que ele chorava. Eu pedi para auxiliar para pegá-la no colo por um instante, mas ela não deixou, disse que era melhor deixá-la quietinha porque ela estava sem sedação e era melhor não manipular para que ela não descompensasse. Como fiquei triste! A última vez que eu havia pegado minha princesa no colo foi no dia 16 de agosto. Estava com tanta saudade e com medo de nunca mais pegá-la nos meus braços com vida...Mas ela olhou bem nos meus olhos e parecia que ela estava me pedindo calma, dizendo que ia voltar.
Não a acompanhamos ao centro cirúrgico. Ficamos longas 4 horas e meia tentando não pensar muito no que estava acontecendo naquela sala. Ora conversando com a Layma que nos fazia companhia, ora cada um chorando para um lado, ora chorando juntos, a cada minuto o Jeffesron saía para fumar... Até que tomamos o maior dos sustos:
A escriturária veio nos avisar que a médica queria falar com a gente atrás da porta de vidro que dava para a uti pediátrica. Veio a nossa cabeça que a Ana não teria resistido. Primeiro porque estava previsto para a cirurgia terminar em 6 horas e só fazia 4 horas e meia que tinha começado. Depois porque na primeira cirurgia a Dra. Luciana falou conosco ali na sala de espera mesmo.
Eu olhei pra o Jefferson e disse: Ela não agüentou. Já chorando e sentindo meu corpo perder as forças, a boca seca e um nó na garganta.

O Jefferson empurrava minha cadeira de rodas desesperadamente. Sem coragem de me olhar nos olhos, muito menos eu conseguia levantar a cabeça. Meu coração parecia que ia sair pela boca e minhas pernas estavam bambas. Meu corpo todo tremia. E eu não conseguia falar nada. Mas queria ter coragem de olhar para o Jefferson e perguntar o que seria da nossa vida sem a Ana. Só que parecia que tinha algo preso na minha garganta e a voz jamais ia sair. Quando chegamos atrás da tal porta, foi outra médica que veio falar com a gente. Ela viu nossas expressões e foi logo dizendo para termos calma que estava tudo bem, a Dra. Luciana tinha lhe pedido para nos avisar que a cirurgia já tinha acabado e que estavam fechando seu tórax, havia corrido tudo bem. A Ana estava viva! Ficamos por lá aguardando alguém vir falar sobre a cirurgia, eu já estava mais calma, era a vez de o Jefferson chorar, um choro compulsivo, como se tivesse sido contido esse tempo todo. Veio o Dr. Fernando. Ele disse que a Ana tinha surpreendido todos no centro cirúrgico. Que nem precisaram ligar os fios de marca-passo e que precisávamos aguardar as próximas 48 horas para ver como ela ia reagir. O ruim foi saber que não íamos poder vê-la naquele dia. Eu teria que esperar até o dia seguinte para beijar minha guerreira e agradecê-la por ter voltado para mim com vida.
A Dra. Luciana nos disse para termos um pouco de paciência, pois a recuperação dessa cirurgia seria mais demorada que a outra, então fui logo me preparando para passar o Natal por lá. Mas nossa pequena foi valente mais uma vez e a recuperação foi rápida e sem intercorrências.

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